Detesto explosões. Gosto de fogos de artifício, mas sem o barulho infernal que nos invade nesta época de fim de ano, seja no Natal ou no Ano Novo. Vejo como ficam desesperados os meus cachorros e então detesto ainda mais a barulheira desnecessária. Porém, há explosões ainda piores, as que carregam a morte com o barulho. Pensando nisso, fiz este poema, o segundo que publico nesta virada de ano (o primeiro você pode ver clicando lá abaixo no que o Substack chama de embed).
Tenho mais de um poema sobre guerras, o que reflete o nosso zeitgeist, ou seja, nosso espírito do tempo em que vivemos. Infelizmente.
Aí vai a poesia, espero que gostem, comentem e recomendem:
Fogos de artifício
O brilho que alumia o céu
Na noite de Ano Novo
Vem da mesma pólvora
Que explode no meio do povo
É a guerra
Como um ano que nunca vai embora
Que antes mesmo da aurora
Desperta de novo e de novo e de novo
Tenho olhos de velho e de criança
Vejo tanto guerra quanto esperança
É a esperança
Que se prolonga ou se renova - como os anos e as guerras
Que faz dos fogos espocar um lampejo
Ainda que pareça que o pior nunca termine
Dentro de mim explode um desejo
Que um mundo melhor nos ilumine
E que da pólvora brilhe somente o festejo
Aqui, o primeiro post e a primeira poesia que publiquei sobre a virada de ano neste 31 de dezembro de 2024. Fala sobre esperança e desesperança, angústia e superação, e explica porque o título provisório do meu próximo livro é Deveras Poesia:
Lindos (os fogos e o poema).
Eu era bastante indiferente a fogos de artifício até me mudar para a cidade, perto da orla, onde todos os fogos de artifício da cidade são enviados pela baía. Na minha infância, eu só os testemunhei uma vez por ano no nosso Dia da Independência.
Agora eu posso ouvi-los sem poder vê-los em todos os dias do festival... e em alguns dias de esportes ao longo do ano.
Eu também moro a quarteirões de Chinatown, onde todos os fogos de artifício ilegais são comprados, vendidos e iluminados nas ruas. O Ano Novo Chinês envolve semanas ouvindo os mísseis, alguns deles lançados do lado de fora da minha porta, já que moro perto de um parque no topo de uma colina.
Parte de mim tem uma consciência infantil de vê-los longe, em sua exibição colorida. A maior parte de mim quer se livrar dessa tradição.
E verdade seja dita, estou com os animais, meu corpo não aguenta.
Houve um festival recentemente onde eles tiveram um show de luzes de drones sobre a baía. Eu não vi, mas pelo menos não houve explosões. Não sei o que acontece se as unidades falharem e caírem na baía, interrompendo a vida selvagem lá, mas acho que essa pode ser uma alternativa melhor.
Me dói pensar em todas as pessoas atualmente nas zonas de guerra. Vivendo em uma cidade, não preciso ir longe para encontrar vizinhos que perderam grupos inteiros de parentes na Palestina ou na Ucrânia. Esse pensamento me faz sentir que somos muito egoístas para comemorar com explosivos quando outros estão correndo para se proteger enquanto falamos.
Ah, com tudo isso, feliz ano novo! Que seja cheio de luz e poesia!