Em 2018, publiquei o ebook URGENTE! A primeira notícia do dia. Todo o livro é feito de poemas que tiveram como “inspiração” a primeira notícia que lia a cada manhã, por vários dias seguidos, no ano de 2017. Daí vem o título da obra. No dia 17 de fevereiro de 2017, a primeira notícia que li — e depois escrevi sobre — falava sobre um protesto de imigrantes, que havia sido realizado no dia anterior, contra a política do então presidente dos EUA, Donald Trump (sim, a história se repete).
O protesto chamava-se “Um dia sem imigrantes”— o mesmo título do poema —, em que milhares de trabalhadores deixaram de comparecer a seus empregos, o que obrigou várias empresas a ficarem fechadas no dia. Leia a seguir um trecho da reportagem da Agência de notícias ANSA sobre o protesto:
“Centenas de companhias da construção civil, restaurantes, supermercados e outros estabelecimentos não funcionaram para mostrar ao presidente a importância dos imigrantes para a economia do país. Em Nova York, Washington, Boston, na Filadélfia e em Los Angeles, vários imigrantes abandonaram seus postos de trabalho e se negaram a fazer compras e usar o transporte público, ignorando por um dia a economia norte-americana.
Na capital, Washington, os manifestantes marcharam até a Casa Branca, sede do governo norte-americano, e diversas ruas foram interditadas. Manifestantes carregavam cartazes com frases como “Nenhum ser humano é ilegal” e “Você come comida? Então você precisa de imigrantes”.
No jornal espanhol El País, o correspondente Nicolás Alonso começou assim sua reportagem sobre o protesto:
“Washington não funcionou na quinta-feira em toda sua capacidade. Mais de 65 restaurantes ficaram fechados e centenas de empregados em lojas e estabelecimentos não foram trabalhar. Era o Dia Sem Imigrantes, que cumpriu seu objetivo: mostrar como são necessários os imigrantes – em grande parte, latinos – para o funcionamento diário de Washington, onde mais de 20% da população é estrangeira.”
Essa pequena introdução é só para mostrar que a campanha de Trump e seus lambe sacos contra os imigrantes não é novidade e não vai melhorar a economia dos EUA. Vai apenas causar dor e lamentação. Mas é importante registrar que, na época, os jornais dos Estados Unidos pareciam estar mais atentos e críticos à política trumpista do que estão hoje.
Voltemos então à poesia que fiz na época, no dia 17/02/2017, assim que li a primeira notícia do dia pelo então saudoso Twitter, antes que a tragédia nazista do Musk se abatesse sobre ele. Logo abaixo do poema aqui reproduzido há um texto de apresentação do livro que explica um pouco mais sobre este casamento entre poesia e jornalismo.
Um dia sem imigrantes
(17/02/17 publicado no livro URGENTE! A primeira notícia do dia )
.
Jamais
Na história da humanidade
Houve um dia sem imigrantes
.
Se houvesse esse dia
Colombo
Jamais descobriria
Cabral
Não chegaria
Só haveria portugueses
Em Portugal
Ingleses
Nunca atravessariam o canal
Napoleão
Seria só mais um
Doente mental
.
Sem imigrantes
Seríamos todos imóveis
Seríamos todos africanos
Mas o Homem migra
La donna è mobile
.
Imagine
Um mundo sem imigrantes
Impossível
.
Imagine
Destruir tudo o que foi feito
Por imigrantes
Impossível
.
Imagine
Qual de nós
Não descende de imigrantes
Impossível
.
Imagine
Se a humanidade imigrante
Fosse exilada
De volta às árvores
.
Hoje
Muros são peneiras
Porém
É fácil acabar com os imigrantes
Basta extinguir as fronteiras
O texto a seguir está na apresentação do livro na loja da AMAZON
“O jornalismo inspira a poesia. O factual se torna perene. A cada dia, a primeira notícia lida é transformada em poema. Realidade misturada com imaginação. Realidade relida. Poesia de resistência e de inventividade, de emoção e racionalidade, de tolerância e alteridade. O jornalista e poeta Luiz Claudio Oliveira trafega com agilidade e criatividade costurando os mundos da poesia e do jornalismo neste livro imperdível para quem se interessa por um ou por outro. Prova que a realidade pode ser inspiradora e que não é preciso se esperar eternamente pela "musa" pois ela muitas vezes atropela o poeta, esbofeteia-o até extrair versos de sangue. A cena violenta pode por vezes ser lavada com amor e humor, mas alguma mancha sempre permanece. É a realidade. E também é a poesia.”
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